quarta-feira, 3 de julho de 2013

Aprender a receber não também faz parte do kit Limite!

Como pode uma palavra de tão poucas letras fazer brotas inúmeras definições e referências? LIMITE, afinal quem é você?

Limite é espaço, é palavra, é referência, é sim, é não, é concreto, é abstrato, é contenção, é proteção, é de certa forma liberdade.

O limite começa desde que uma criança consegue interagir com o mundo e percebe que suas reações desencadeiam ações/expressões nas demais. Se atendida de imediato, percebe que sua manifestação/protesto/exigência fez efeito. Se demorada para obter atendimento, mais estratégias para angariar resposta. Se atendida em prazo hábil, satisfeita em suas reivindicações e sem a necessidade de recorrer a subterfúgios elaborados para romper a barreira de suporte emocional do adulto mais próximo.

Ainda bebê, uma criança é capaz de perceber a facilidade/dificuldade do adulto em se comunicar com ela de forma clara, objetiva e fluida. Assim que detecta as suas próprias habilidades em extrair das demais pessoas aquilo que lhe é necessário ou desejado naquele momento, sim, recorre a mecanismos de desafio ao outro às vezes de forma agressiva, outras nem tanto, mas sempre contempladas no aspecto individual.

Há mães/pais que na ânsia de não ver um/a filho/a chorar, atendem imediatamente aos pedidos deles/as. Sim, porque quem tem filhos sabe quão irritante e de certa forma constrangedor, é ver um filhote berrando em alto e brado tom no meio do corredor de um supermercado seja lá pelo motivo que for - às vezes não choram porque querem o biscoito ou o iogurte, histerizam porque nem eles próprios sabem o que desejam, mas qualquer coisa pode ser interessante ou não, dependendo do grau de atenção que estiver sendo direcionado para este alguém ali, naquele instante.

E também tem o lado de que pais e mães esquecem ou ignoram o fato de que o mundo por aí afora diz "não" para a gente, dirá "não" para nossas crianças. E se a gente não souber instrumentalizá-los, o enfrentamento da realidade com certeza será um processo doloroso para ambos os lados. Por exemplo, você prometeu um belo jogo de varetas elaborados pelas crianças indígenas da Pérsia para seu filhote, como prêmio pelo cumprimento de um conjunto de atividades realizadas ao longo da semana. Porém, ao chegar no lugar da aquisição do dito prêmio, deparam-se com uma realidade adversa: a caixa do jogo estava vazia, o conteúdo extraviou embora a embalagem estivesse lacrada.

A criança chora desesperada porque cumpriu um conjunto de tarefas "Para Nada" (do ponto de vista dela) e a mãe quase surta porque a criança teve uma síncope e agora como fará para suportar a angústia (ira) deste terremoto frustrador? Uma situação difícil realmente de dispôr sobre a mesa e agir sobre ela. No entanto, se elaborada desde cedo a capacidade em desviar de um bloqueio e dele fazer brotar novas oportunidades, sim, surge a solução.

É importante estar sempre apresentando às crianças como receber um não pode ser algo precioso. Um exemplo disso é quando impedimos o acesso delas à qualquer situação perigosa como contato com fogo, facas, substâncias químicas, entre outras em que ecoa um sonoro : NÃOOOOOO!

Limite não tem receita certa, afinal o que para uns é limite/referência, para outros é apenas conceito ou palavra. Limite na verdade é uma parede invisível que impede de se avançar em direção a algo ou algum lugar imaginário. 

Saber ceder aos próprios limites é também digno de ser  reconhecido. Saber extrair das consequências de um não obtido, novas possibilidades é também um mérito. Limite não é empecilho, limite é o botão do "pause" que acionamos para respirar durante algo contínuo e para o qual urge o fôlego.

Assim, na medida em que fortalecemos nossas crianças a compreenderem  o recebimento dos nãos, conseguimos ajudar que elas próprias criem estruturas internas capazes de elaborar escolhas e (re)direcionar alternativas para uma melhor adaptação ao espaço em que estiverem inseridas.

Nossas crianças não podem e não receberão aprovação e consentimento para tudo o que desejarem fazer/obter. Mas também não há motivos que justifiquem uma vida inteira de não. Sim e não são necessários enquanto equilibram as situações, no que diz respeito ao bom-senso, sem demasias, sem discrepâncias.

Não se pode temer o mundo que nossos filhos encontrarão pela frente, à luz de que se poderia estar evitando o sofrimento deles ou mesmo ajudando-lhes a encontrar justiça quando os protegemos sob nossas asas. Nosso papel enquanto mãe/pai, educadores, família temos que manter clara nossa função de mediadores entre as situações e nossas crianças - ou seja, transitar entre o que está acontecendo de fato e como podemos pegar na mão delas para que atravessem as ocasiões com propriedade de experiência/causa/consequência.



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