Moro há onze anos no Rio de Janeiro. Neste tempo todo, há coisas que demorei a conhecer e outras que rapidamente fui tratando de visitar. Os pontos turísticos mais conhecidos daqui como o Pão de Açúcar e o Cristo Redentor, por exemplo, levei mais de cinco anos para arranjar um tempo/ânimo para ir...
Também o Jardim Botânico, a Vista Chinesa e o próprio centro da cidade foram pontos que custei a visitar, mas finalmente fui lá e voltei outras e outras vezes. Há também museus que conheci e outros que ainda pretendo explorar, mas são pequenos projetos que aso poucos vou inserindo em meu cotidiano de filhotes que vão crescendo e sendo melhores companhias para estas aventuras culturais.
Pois bem, aqui no Rio tem a Feira de São Cristóvão - Centro de Tradições Nordestinas Luiz Gonzaga. É um espaço que reúne um pedacinho do Nordeste Brasileiro através de bancas de artesanato, comidas típicas, tradições e vários trechinhos que compõem a cultura do povo nordestino.
Na chegada, já deparamos com placas muito especiais:
Eu não tinha noção do que encontraria la dentro! Uma diversidade de cores, pessoas, cheiros, sabores e coisas diferentes do que costumo acompanhar em meu dia-a-dia. Na chegada já é possível sentir que ali dentro daquele espaço há uma energia muito forte, intensa, única.
Tudo é repleto de bandeirinhas, alegre, com música animada. Pessoas dançam, cantam sem a menor inibição em karaokês espalhados em diferentes restaurantes/lanchonetes. Fiquei admirada em ver casais dançando felizes o seu forró, mulheres maduras arrebentando no Bee Gees, assim, com microfone na mão e soltando a voz do jeito que a alma queria: sem a menor vergonha. Deles não registrei fotos por uma questão de preservação da espontaneidade e privacidade deles/delas.
Há tempos li algo a respeito de uma bebida (refrigerante) oriunda do Maranhão, e que fiquei realmente curiosa para experimentar. Tratava-se de um guaraná cor-de-rosa, o Guaraná Jesus. E foi que finalmente pude ter a oportunidade de provar, aliás, se quisesse poderia ter trazido um pequeno estoque dele para casa, pois na feira ele é encontrado em vários estabelecimentos e em diferentes apresentações: lata, garrafinha e garrafão de 2 litros. Não posso dizer que me apaixonei, mas o sabor é agradável e bastante adocicado. Afirmo que não traria a garrafa grandona para casa, mas uma pequenina bem geladinha com certeza eu apreciarei outras vezes.
Ao longo dos corredores, há figuras e personagens de quem já ouvimos falar ou em algum momento de nossas vidas ou tomamos conhecimento de sua presença na história do nordeste. Eu queria que meus filhos tivessem parado ao lado do Saci Pererê, para registrarmos. Mas não os convenci e acabou que o encantamento realmente estava mais presente em mim do que neles. Saci é parte da literatura brasileira, de Monteiro Lobato e das lendas folclóricas, é mito da nossa terra - uma personagem querida, atemporal.
E por falar em personagens, eu voltei no tempo quando deparei com uma boneca de pano muito especial para mim.
Quando eu era bem pequena, ao redor de uns quatro anos de idade, ganhei uma boneca de pano bem negrinha assim como esta. A minha usava argolinhas douradas, um vestido também florido e tinha uma boquinha pequenina. Eu a chamava pelo nome que minha mãe dera: "Nega Beijó". Era uma companheira de brincadeiras e de noites de sono. Foi parceira durante muitos anos e só doei ela quando, na adolescência, achei que ela poderia fazer outra menina feliz, pois comigo ela só teria a função de enfeitar o interior de uma sacola e bem escondidinha sabe lá Deus onde. Bateu uma saudade...Cheguei a pensar em comprar uma nova, mas acabou que fui me distraindo com outras maravilhas e deixei de lado a ideia.
Os brinquedos que vi por lá, são realmente reflexos da cultura nordestina. Instrumentos musicais, artesanatos e muito objeto colorido: bichinhos, bonecos, acessórios. Aliás, cor é coisa que chama a atenção da gente por lá! Em toda a parte há cores vibrantes e fortes, seja nas mesas, nas paredes, não importa: há muita cor em tudo por lá!
Vi bonecos que não são para brincar, mas para enfeitar, para alegrar, para colorir. E mesmo não sendo elaborados para serem manipulados, brincam com a imaginação da gente.
E se por um lado a simplicidade da música reina na infância, há também o colorido do Rock'n'Roll fazendo bonito com o colorido nordestino...
A vitrine da loja de artigos de rock não é apenas uma vitrine de loja de rock, ela traz o estilo brincalhão e alegre de fazer piada que o povo nordestino tem.
Uma curiosidade que chamou também a minha atenção (e a do filho adolescente, principalmente) foi uma cesta repleta de uns objetos de madeira:
Sim, são pênis eu percebi. Mas minha curiosidade foi em saber o significado disso. No caminho para casa, eu e meu marido filosofamos a respeito e não chegamos a nenhuma conclusão - aliás, se alguém quiser contribuir com a explicação cultural disso, estou aceitando agregar mais este conhecimento! Inúmeras hipóteses formulamos sobre, mas seguimos na mesma: curiosos e intrigados!
Na feira há também doces, temperos e outras especiarias típicas nordestinas. Algo como bala de cana e tapioca, podem ser encontrada com facilidade por lá!
Tem artista que trabalha fazendo caricatura personalizada. Um belo trabalho sendo oferecido ali, no corredor, para quem quiser sua imagem traçada com o capricho da mão de um homem cujos dedos são enfeitados por anéis!
Ah, claro, eu com uma câmera na mão tentei não deixar passar vários detalhes significativos do passeio. E mesmo (não?) fazendo parte do contexto, não pude deixar passar desapercebido este bichinho (ele/ela que me perdoe) que não posso dizer se gatinho ou gatinha, mas como acho felinos fofos, quis a imagem do mesmo aqui neste post!
A criaturinha decidiu tirar seu cochilo ali assim, no meio da barulheira e com o constante circular de pessoas e movimento. Ô soninho bom!
Pois assim foi o passeio à Feira de São Cristóvão, repleto de belas imagens clicadas ou na câmera, ou em meus olhos. Mas além de imagens preciso contar que algo mais veio comigo depois desta visita. Meu pensamento foi lá para o meu Rio Grande do Sul. Porque se é para falar em povo que cultiva tradições, ah, posso trazer a gauchada aqui para representar este discurso. E assim foi que em instantes liguei Sul e Nordeste em um mesmo ponto: são povos guerreiros, aguerridos, fortes, unidos entre a sua gente. Falar da tradição nordestina é viver de certa forma minhas memórias gaúchas.
Percebi que em se tratando de representar a própria terra e viver as suas tradições onde quer que estejam, mantêm viva a cultura destes povos. Guardo comigo o encantamento deste dia, vivido em apenas um pedaço de concreto em uma pequenina fatia de um bairro da Cidade Maravilhosa, como uma porta que se abriu para querer ir até lá visitar algumas cidades nordestinas para poder simplesmente ilustrar com a vivência o que já aproximei de meu coração!
Há um tempinho atrás, uma amiga blogueira (a Fernanda Reali) já havia visitado a feira e registrado o passeio aqui!
Então, se quiser uma dica de um passeio rico em imagens e cultura nordestina, passa lá na Feira de São Cristóvão um dia desses também!
*Quanto custa?
Estacionamento para carro: R$ 10,00
Entrada: adultos R$ 3,00; crianças e idosos acima de 65 anos não pagam.
Querida, umas das coisas que mais me chamou a atenção quando conheci os pampas foi como são parecidos em seu jeito com os nordestinos. Criei a teoria que tanto nos pampas quanto no sertão (que conheço bem) o olhar é infinito e a vida tão dura quanto. Isso faz que tanto os gaúchos como os nordestino tenham muito orgulho de suas origens e tradições. Tão longe geograficamente e tão iguais.
ResponderExcluirbjs
Jussara
Ju, é uma energia muito forte. Minha comparação foi bem relativa a isso mesmo que tu também podes avaliar. Muito intensa a tradição e o reflexo deste cultivo às origens! Já vi que terei que conhecer o nordeste!bjks, lindona!
ExcluirDelícia de passeio.
ResponderExcluirEu, como nordestina, adorei.
Quem sabe um dia vou por lá.
rs
Xeros
Acho que os pênis de madeira com parafusos são abridores de garrafa, óbvio que uma galhofa! Adorei o texto, parabéns
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