Tudo começou no dia em que eu soube que a avó do meu marido, sofrera uma queda em casa mesmo e estava com sequelas, dentre elas a perda da fala e dos movimentos de um dos lados do corpo. Ela teve um AVC Isquêmico no lado esquerdo do cérebro, o que veio a paralisar totalmente o lado direito do corpo dela.
Foi um grande choque receber esta notícia e cair na realidade de que nunca mais poderei escutar a voz dela me ligando para desejar feliz aniversário, ou mesmo saber das novidades aqui dos bisnetos dela... Então, o feriado da semana santa veio a ser peça fundamental para se elaborar uma ida até lá, para vê-la, senti-la...
Decidimos não participar às pessoas queridas presentes em nossas redes sociais. Seria doloroso demais selecionar com quem estaríamos nas poucas horas presentes em Porto Alegre, tendo em vista que nosso objetivo era uma cidade do interior...
Chegamos na capital gaúcha às 17h da quinta-feira. Jantamos com uma família de amigos da qual eu desejava fortemente conhecer a pequenina prestes a completar um ano e, reencontrar os demais membros. Não queria que ninguém modificasse planos de viagem, apenas por nossa muito breve passagem pela cidade. Por esta razão, entendam todxs vocês, amores gaúchxs, ninguém foi notificado. E saibam que voltar com mais calma, para poder estar um pouquinho com todo mundo que tem saudade de mim e da minha galerinha, faz parte de um plano mais elaborado...
Então, na manhã da sexta-feira santa, pegamos a estrada rumo a um destino de cinco horas e meia de chão... Aventura com a gurizada, coração tenso pelo que seria encontrado... As emoções começaram com a meteorologia: chuva e frio, tendo em vista que uma semana antes a previsão dizia mínimas de 17 graus e máximas de 25. Sorry, mas não rolou nem uma nem outra e a gente estava desprevenido...
Foi então na tarde da sexta que fui ao hospital ver a bisa. Cheguei lá e ela estava cochilando sentadinha numa poltrona. Falei com ela, disse meu nome, brinquei que ela havia feito arte e que isso me levara até ela... Ela me reconheceu, vi o brilho do olho, vi algumas reações particulares que ela sempre realizou comigo, como por exemplo, dedilhar minhas pulseiras com a ponta dos dedos.
Não consegui conter minhas lágrimas e de repente meu mundo abriu uma enorme cratera... A avó que me aceitou como neta aos 21 anos, estava ali: toda contida dentro de um corpo que não a deixa mais ter interatividade com o lado externo a ele. Fiquei perdida, desesperada, revoltada, triste mesmo. Era a minha avó que estava ali, embora eu não tenha o sangue dela em minhas veias, tenho em meu peito todo o amor que recebi dela ao longo destes anos que nos conhecemos.
E durante a visita, procurei estimular algumas reações nela. Ela deu gargalhadas, apesar das limitações, ela entendeu minhas bobagens. Coisas que falávamos as duas no telefone e muitas risadas demos juntas. Eu costumava dizer a ela que a traria para o Rio, para desfilar de topless nas areias de Ipanema, Copacabana. Ela ria muito. Eu também ria e guardava comigo a cumplicidade das besteiras que a faziam rir e que sempre me traziam um pouco de luz, ao lembrar que ela ficara feliz em falar comigo... Vou dizer pra vocês que eu e ela falávamos mais seguido do que o neto de sangue dela (marido!) e ela.
Deixei o hospital com esperança de que ela tenha os melhores atendimentos e possa reaprender a interagir... Sei que provavelmente algumas regiões do cérebro dela infelizmente foram danificadas, mas ali há muita vida ainda. Me recuso a pensar diferente!
Então no sábado voltamos para Porto Alegre. Sensação doida, estranha... Imaginem que não poderíamos ser vistos por ninguém...Afinal de contas, estávamos tipo modo anônimo por lá... Exceto meu cunhado, que foi nosso cúmplice e ajudou a organizar um churrasco no sábado à noite, para reunir a família toda. Causou um certo estranhamento.. Churrasco às vésperas do domingo de Páscoa, evento certo que de fato, reuniria todos...
Então o esquema foi assim: @s convidad@s chegariam às 19:30. Nós, só poderíamos chegar lá depois de ter certeza da presença de todo mundo lá, sentadinho na sala... E foi então que liguei para minha mãe, comentei que iríamos comer uma pizza. Disse a ela que aproveitasse bem o churrasco por mim e que, ao sair de lá, me ligasse para contar as novidades. Mandei mensagem para minha irmã, a dona da casa, também dizendo que estávamos a caminho da pizza...
Então, tive que convencer o porteiro a não interfonar o apartamento. Expliquei do que se tratava, que entendia a necessidade dele em avisar e tudo o mais. Mas referi o programa do Luciano Huck, com aquele clima de surpresa geral e nossa ideia para tudo acontecer e então o cara foi um amor e liberou nossa entrada. Ah, mas ainda estava faltando minha sobrinha chegar da rua...O que ela tinha de sair bem naquela hora? Teria surpresa!!!
Ok, subimos e deixamos fluir nossa adrenalina. As crianças estavam excitadas demais, não dava mais para contê-las... Subimos. Minha filhota tocou a campainha. Escutei lá de dentro: deve ser a Giu, que deu una saída. E quando a porta se abriu e minha irmã deparou como trio, gente, vocês não fazem a menor ideia das reações da minha mãe e da minha outra mana... Elas ficaram plenamente chocadas, felizes, explodindo de emoção e incrédulas do que estavam vendo...
Foi emoção indescritível! Duvido que algum programa de televisão tenha chegado perto do misto de tudo o que sentimos em questão de minutos... Mas a sobrinha estava chegando. E eles quiseram que ela tivesse emoção também... Para isso, entraram cinco pessoas dentro do quarto dela e apagamos a luz. Acreditem, até o caçula estava cúmplice da bagunça... E foi então que ela abriu a porta, acendeu a luz e escutou um sonoro: SURPRESA!!!!!
Ela não acreditava, gritava, pulava, tocava na gente pra ver se não éramos holografia, sei lá... Só sei que foi maravilhoso!
Nosso churrasco foi repleto de fotos, risadas, conversas, energia linda mesmo. Quando que qualquer um dos presentes imaginaria tamanha surpresa e novidade? Nem nos mais remotos sonhos...
Então, como eu disse no início deste texto, nosso passeio seria breve...E domingo cedo nosso vôo voltava pro Rio. Quase como que o encanto do sapatinho de cristal, assim vivíamos esta viagem...
Voltamos para casa como coração leve, iluminado, abençoado, colorido por tanto amor. Sei que fomos o assunto do almoço de domingo, que estivemos presente lá com a família, apesar de estarmos fisicamente longe. E fiz questão de levar isso assim para trazer novos ânimos para cada um da minha família. De repente desejar forte, querer do fundo do coração que possamos estar sempre juntos física ou espiritualmente. Então o desejo se realiza e lá vamos nós, sorrir com as lembranças do que se viveu e planejar os novos encontros...
E que a gente sempre encontre razões para buscar emoções que preencham nossa alma de muita luz e cor! E que nosso coração seja forte o suficiente para bater em ritmo do que nos acalma a alma e serena nossos sonhos...
Amores gaúches, a gente vai poder se ver sim! Da próxima, todo mundo vai saber quando eu for! Até porque, surpresa repetitiva perde a graça! E quero poder estar um pouquinho com cada um e cada uma de vocês que vivem meus dias comigo, ainda que no plano virtual...
Amamossssss!
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