segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Em casa de ferreiro...ou de Psicopedagoga, a gente tenta mudar isso!

Diz o ditado, que "em casa de ferreiro o espeto é de pau". Já escutei inúmeras vezes que em casa sou mãe, não a Psicopedagoga. No entanto, há questões que não se definem por prerrogativas simples de provérbios populares. Vou contar para vocês um pouquinho de uma história do meu primogênito que aconteceu no ano de 2014.

Meu filho mais velho, ao longo de sua jornada escolar, sempre trouxe novidades para a família. Desde o início, pelo processo de ingresso na escola, passando pelos anos seguintes até chegar aqui, no dia de hoje. Meu menino é um cara inteligente, raciocínio rápido, capaz de desenvolver e estabelecer relações lógicas com invejável aptidão. Já escutei de profissionais inclusive, que ele é acima da média e, na própria escola havia uma descrição de aluno sem a menor dificuldade cognitiva. Isso de certa forma, me assegurava uma posição tranquila, diria até acomodada no que diz respeito à compreensão de conteúdos e acompanhamento da rotina escolar.

Com o passar dos anos, veio o aumento da demanda de estudos. Estive sempre atenta e na medida do possível, mantendo uma parceria com as professoras e equipe da escola. Percebia meu filho pouco envolvido nos assuntos escolares e o que atenuava esta minha observação, era o fato de que ele sempre saía-se bem nas avaliações do tipo testes e provas individuais. Mas a transição do Ensino Fundamental I para o II trouxe fatos novos...

Antes da mudança de lei do Ensino Fundamental, para os nove anos, a transição acontecia da 4a para a 5a série. Atualmente, é do 5o para o 6o ano. Aumenta o número de matérias e então o papel da professora passa a ser descentralizado e distribuído para docentes especializados nas disciplinas individualmente - não mais em uma polivalência. Todo este movimento desestabiliza a organização do estudante, em vários aspectos. Desde a aquisição de material, até às questões afetivas - as relações passam a ser outras com seus professores e professoras. E assim iniciou o desafio aqui em casa.

O rendimento de meu filho ao longo do primeiro semestre foi basicamente mediano. Poucas notas acima da média da escola. Em algumas disciplinas ele teve melhor desempenho do que em outras, isso é fato. Porém, começou a aparecer dificuldade em Português - desde interpretação de texto até a gramática em si. E lá fui eu, cobrar da escola a nossa antiga parceria. Não queria que ninguém facilitasse nada para meu filho, apenas solicitei que pudesse estar mais envolvida nas questões de prazos, datas e matérias mesmo. Pois estava vendo que ele não estava dando o melhor de si e, mais, o desinteresse brotou com força total. Com as demais disciplinas ele de alguma forma se envolvia, mas com a de Português...

O resultado foi a reprovação. Com muita dor, tive que aceitar que meu filho não atingiu os objetivos daquele ano. Teríamos que arcar com todas as frustrações e angústias que uma reprovação traz. Para ele pesava o fator perda de amigos, repetir tudo o que já vira antes e como ele mesmo disse: ser humilhado por ser repetente. 

Ainda tentei numa conversa com a equipe da escola, ponderar, viabilizar uma oportunidade de resgatar o que não havia sido obtido, que fosse revista a avaliação. Sim, porque reprovar o baixo desempenho do longo do ano é compreensível. Reprovar por metade do desempenho, traz questionamentos ainda mais em se tratando de escola com proposta pedagógica menos tradicional...

Vejo na repetição de um ano escolar, a oportunidade para àqueles que realmente tiveram dificuldades em acompanhar conteúdos e propostas. Neste sentido, rever cada tópico, propicia a aprendizagem e então apreensão das informações para a estruturação de conhecimento. Repetir porque reprova em uma ou duas disciplinas, invalida todo um ano de estudos - ainda que descomprometidos, mas de assiduidade frequente. 

Gostaria de ter conversado com a professora de Português, ainda em tempo hábil. Questiono realmente se ela não poderia ter feito mais, porque até onde eu entendo o papel de quem ensina, penso que poderia de fato motivar mais não só meu filho como os demais que se encontrassem em situação semelhante. E mais, ainda que meu filho fosse o único, penso que caberia um repensar no próprio método de maneira a trazê-lo para junto do nível do grande grupo. Não pensem vocês que estou culpando a professora dele! Estou criticando sim o que me soou como omissão, desinteresse dela própria em firmar sua prática no aprendizado. Reprovar com certeza é mais fácil do que repensar um caminho para trazer de volta quem não consegue acompanhar. 

Enfim, esses acontecimentos servem para nos trazer força e aprendizados. Enquanto família, nosso grupo sofre junto com o membro que se vê diante de uma perda seja ela no âmbito que for. Enquanto mãe, vem a dor de ver um filho sofrer e não poder atenuar a dor em um colo materno. Como Psicopedagoga, compreendo o baixo rendimento ao mesmo tempo que contraponho o mesmo com a alta capacidade cognitiva e chego no diagnóstico da preguicite aguda misturada com "sim, meus hormônios iniciaram a efervescência". E de tudo fica a mais importante das lições: não atacar a auto-estima de quem foi reprovado. Falei o tempo todo sobre as inúmeras vezes em que o mandei estudar, participar, se envolver com a escola. Tendo em vista que meu discurso não foi assimilado ou devidamente apreendido, eu me eximo de toda e qualquer culpa. 

Espero que esta reprovação sirva para meu menino tomar consciência de que a vida lá fora não tem a mesma tolerância que a de casa. Que então ele possa viver suas etapas com empenho, dedicação e valor por tudo o que nós responsáveis, fazemos por ele em todos os dias desde que nasceu. Não cobro gratidão, mas atitude coerente com o que lhe oportunizamos. 

E se quiserem um conselho, diante da perspectiva do caos ou quase, não deixem de insistir no que acreditam. Ousem, arrisquem e sejam firmes em seus propósitos junto aos filhos e filhas de vocês. A escola tem o papel de formar, educar, transformar entre outros, mas não o de sentenciar um único destino para seus alunos e alunas. Assim, temos que colocar em prática nosso direito de discordar, de fazer diferente e de buscar de fato, sempre o melhor para nossa prole ainda que para isso tenhamos que rever muitas de nossas expectativas e crenças.

O cara vai para o 7o ano com dependência da disciplina que reprovou. Aqui em casa reforçamos para ele que aproveite a chance que a vida está lhe dando. E mais, que mostre a si mesmo como é capaz de reverter o jogo e assumir seu lugar de dono do próprio conhecimento e autor de seu aprendizado! Que venha a nova etapa!






Comentários
1 Comentários

Um comentário:

  1. Kathleen, tenho uma netinha que vai enfrentar este ano o que o seu filho já enfrentou. Nos anos anteriores fiz o que pude para ajudá-la a passar em matemática: estudei com ela, aqui em casa ou na casa dela, usando a única didática que sei e posso aplicar: paciência (derivada do amor). Daqui pra frente, com essa mudança, vários professores, etc, creio que a tendência é de mais dificuldade. Continuarei tentando. Gostei muito do seu blog, estarei acompanhando. Abraços.

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